Timidez: característica ou sofrimento?
A timidez é uma característica pessoal e pode ser entendida como uma inibição que se apresenta nas interações pessoais, interferindo mais ou menos intensamente no modo de relacionar-se. As pessoas tímidas costumam ter um excesso de preocupação a respeito do que as outras pessoas podem pensar sobre elas. Deste modo, evitam expor suas ideias, pensamentos e desejos, prejudicando muitas vezes seus relacionamentos e a imagem que transmitem de si mesmos.
O tímido pode passar uma imagem distorcida a respeito de si porque em geral expõe de maneira moderada seus pensamentos e sentimentos, se protege em demasia o que faz com que as pessoas o conheçam pouco. Pode também passar uma ideia de antipático, frio ou inseguro, sendo alijado de reuniões sociais por interagirem pouco.
Embora cada sujeito seja único, podemos falar de algumas características no geral que podem ou não estar presentes em cada um. Na maioria das vezes, as pessoas tímidas são menos falantes, não gostam de se expor em público, frequentemente desviam o olhar do seu interlocutor (o olhar revela o que a pessoa sente. Para ocultar seus sentimentos algumas pessoas desviam o olhar), falam com a boca mais fechada – entredentes, articulando menos as palavras, falam com volume mais baixo, são pouco assertivas, não sustentam uma opinião própria diante de pessoas que se opõem a elas, podem ter a auto-estima reduzida, podem ser inseguras, podem não gostar de sua aparência fisica.
Além disto, o modo como cada um se posiciona diante dos acontecimentos da sua vida poderá fazer muita diferença. Por exemplo, a timidez pode estar presente somente em determinadas situações e diante de determinadas pessoas ou de modo generalizado para quase todas as situações da sua vida. Pode acontecer, portanto, de uma pessoa ficar tímida somente quando está em evidência, ao falar em público ou na conquista amorosa.
O que marca a diferença entre o modo tímido de ser de cada um é sua história de vida e alguns aspectos podem ser relevantes, mais para uns, menos para outros. Alguns indivíduos podem ter sido submetidos constantemente a críticas, podem não terem sido valorizados em suas ideias, pensamentos e desejos desde a infância, podem ter tido vergonha das atitudes dos pais, podem ter experienciado pouca afetividade na família, falta de encorajamento dos pais para expor seus sentimentos, não valorização dos sentimentos, entre outros.
Algumas pessoas têm uma timidez tão forte que se torna paralisante, impedindo-as de realizar coisas básicas em suas vidas, até mesmo procurar ajuda. E a ajuda pode ser eficaz dependendo do nível de incômodo que a timidez causa naquele indivíduo em particular, e se ele tem vontade de superá-la.
Um tratamento pode levá-lo a descobrir algo mais a seu respeito, gostar mais de si, ser menos crítico e rigoroso consigo mesmo, aceitar-se mais, mudar sua relação com o olhar do outro, desmistificar o excesso de expectativa que em geral o tímido tem a respeito das demais pessoas e que o leve também a perceber que todos são falíveis.
Se a timidez for impeditiva de estabelecer relacionamentos saudáveis e estes forem conflituosos por demais, os campos amoroso e profissional poderão ficar muito comprometidos. O tímido tem muita dificuldade de demonstrar sua afetividade com medo de ser rejeitado pelo outro. Numa relação amorosa o parceiro pode tirar conclusões erradas se a pessoa tímida silenciar ou se afastar. Com relação a uma conquista, em geral, ela tem uma postura de aguardar a sinalização da pessoa por quem está interessado para então tentar demonstrar seu interesse. Ela não considera a possibilidade de correr algum tipo de risco, pois a recusa é sempre vista como rejeição, e isto não é bem suportado por uma pessoa tímida. Com isto, muitas oportunidades podem ser perdidas.
Na vida profissional, pode ser muito difícil saber se colocar diante de um grupo ou diante de pessoas com o cargo hierarquicamente acima de seu. E para desenvolver bem sua atividade é muito importante saber se comunicar com clareza, trocar de opiniões, impressões, saber dar e receber feedbacks, pedir a colaboração de um colega, mostrar suas dificuldades na execução de alguma tarefa, até mesmo dizer que não está sendo capaz de fazer algo.
No caso da criança, por ainda estar em formação, esta característica se confunde com outras, até porque a maneira com que ela se relaciona com outras crianças é diferente da maneira com que interage com os adultos e, com estes, a criança pode ter mais dificuldades de se mostrar pelo que representam enquanto autoridades para elas. Contudo, os pais devem observar em que situações seus filhos se mostram tímidos e devem estar atentos para ver se esta timidez é paralisante para ele, impedindo-o de interagir com as pessoas. Muitas vezes a criança se queixa que está sendo excluída do grupo, quando, na verdade, é ela mesma que se exclui por sentir-se rejeitada. Os pais também devem analisar suas condutas ao lidarem com seus filhos no que se refere à rigidez, falta de espaço para escutá-la (preocupam-se mais em falar), excesso de críticas, perfeccionismo, sua própria auto-estima e pouca demonstração de afeto.
Na adolescência é comum e compreensível certo grau de timidez estar presente por medo da crítica e pela necessidade de aprovação do grupo. Os adolescentes não querem parecer diferentes e nem se destacar. Por isso não gostam de se expor, pois as diferenças individuais sempre vão aparecer, queiram eles ou não, e os adolescentes não poupam críticas sobre aquilo soa diferente.
Algumas atitudes dos pais podem ajudar, tais como: demonstrar interesse pelos sentimentos dos filhos, valorizar suas ideias, pedir que se coloquem com mais frequência, pedir sua opinião, se interessar pelo que está acontecendo na vida deles, ouvir sem criticá-los e jamais expô-lo em público. Aliás, estas atitudes são importantes para TODOS os filhos, mesmo aqueles que não são tímidos.
O tratamento por meio da palavra, (e a psicanálise é uma excelente opção) pode oferecer a possibilidade do sujeito se reposicionar diante das pessoas e da vida. Isto poderá ajudá-la a superar essa fonte de sofrimento e limitação.
Não há receitas para diminuir a timidez, mas certamente depende muito mais da pessoa. Não é tarefa fácil. Em geral, não se tem ideia de como os tímidos se sentem aprisionados e como isso gera ansiedade e sofrimento.
Deixo algumas sugestões para serem pensadas em relação ao campo afetivo e profissional
• Não tente parecer o que você não é. Seja você mesmo. A timidez é uma característica sua até que você queira e consiga mudá-la.
• Tire proveito de sua timidez. Nem sempre a timidez é uma característica negativa. Em muitas situações um pouco de reserva e menos exposição são desejáveis, adequados e denotam maturidade.
• Enfrente o olhar do outro. Descubra que é possível falar com o olhar aquilo que você não consegue dizer com as palavras. O olhar e o sorriso abrem o canal de comunicação, aproximam as pessoas e sempre revelam o que elas sentem.
• Se possível, comunique seus sentimentos. As pessoas valorizam e admiram aqueles que têm coragem de dizer o que sentem, sem esquecer-se de respeitar o outro.
• Revele-se: com certeza você tem algo importante a dizer. Escolha a pessoa certa e o momento mais adequado para se fazer ouvir.
Numa entrevista de emprego:
• Prepare-se antes para a entrevista: relacione tudo que você acha importante ser dito para conquistar aquela vaga.
• Mostre suas capacidades: se você não conseguir deixar claro o que é capaz de realizar poderá ser subavaliado e ser direcionado para uma função aquém da sua capacidade.
• Descubra qual o seu diferencial : certamente, apesar de ser tímido, você vai descobrir que desenvolveu habilidades e capacidades que podem ser valorizadas.
• Organize suas idéias: isto é importante para não ter uma fala desconexa mediante o nervosismo.
• Relacione as coisas mais importantes que você realizou: vai descobrir que você tem seu valor.
• Seja objetivo: Responda somente o que for perguntado.
• Olhe para o entrevistador: procure encontrar, algumas vezes, o olhar do entrevistador, mas sem fixá-lo exageradamente.
• Seja natural: a naturalidade deixará você menos tenso.
• E o mais importante: SEJÁ ÉTICO! Não diga nada que não seja verdadeiro e sincero.