O NARCISISMO E A RELAÇÃO PAIS-BEBÊ


O termo narcisismo deriva do mito grego, segundo o qual o jovem Narciso era fascinado por sua própria imagem. Este termo assumirá sua importância na teoria psicanalítica a qual indica uma fase necessária da evolução da libido. É empregado em psicanálise para designar o amor de um sujeito por ele mesmo antes de se dirigir a um objeto – amor objetal.

O ser humano tem a necessidade de ver sua imagem reproduzida e o  narcisismo está presente no desejo de gerar filhos, de se “auto-duplicar” e se imortalizar, dando continuidade a seu ser.

Este desejo de continuidade também se estende à transmissão dos ideais e valores familiares e a criança é vista como um elo entre as gerações. Assim se dá o processo de filiação através do qual a criança irá se identificar com os personagens de sua história familiar.

Tal desejo de continuidade e processo de filiação se inicia mesmo antes de o bebê nascer, já por ocasião das fantasias dos pais, do que sonham para seu filho.  A escolha do nome e sobrenome que ele receberá também contém uma marca bastante significativa, portando, muitas vezes, a história de algum ente querido vivo ou já falecido. Também é muito comum dar ao filho o mesmo nome do pai. Talvez no homem este narcisismo seja mais forte.

O sentimento de continuidade dá aos pais também a sensação de ser possível um resgate, através dos filhos, de seus sonhos acalentados desde a infância, porém não realizados.

Não há como evitar os efeitos do narcisismo dos pais sobre a criança. E o desejo daqueles pode ser mais ou menos determinante nas escolhas dos filhos.

O desejo narcisista é indispensável, fundamental para que os pais se vinculem ao bebê e vejam nele um potencial de realização do que ficara perdido para trás. Esta promessa de realização é a explicação para o fato dos pais abrirem mão de muitas de suas necessidades, agora projetadas sobre o bebê. Quanto maior a dedicação ao filho, maior a expectativa de vê-lo bem-sucedido e seu narcisismo satisfeito.

O que ocorre quando um filho não retorna aos pais as realizações esperadas, frustrando-lhes? As diferentes respostas  que os filhos dão às expectativas dos pais explicam as diferenças nas afinidades entre pais e filhos e dá àqueles a dimensão de seu (in)sucesso na criação de um filho.

No caso de um bebê que nasce com alguma deficiência pode haver um golpe inicial no narcisismo dos pais que não vêem naquele bebê o elo esperado, o bebê idealizado.  Porém, este bebê também precisa ser investido narcisicamente para sobreviver, os pais precisam reconhecer algo deles, a sua imagem, no filho.

Neste último caso, passado o luto pelo bebê idealizado em troca do bebê “real” (luto que também é vivido em casos de bebês “normais”, pois nunca o bebê real será igual ao idealizado), será possível fazer o devido investimento emocional necessário à sobrevivência física e psíquica do bebê. E, com certeza, até nestes casos, os pais poderão ter suas realizações tão esperadas e o mesmo retorno de terem sido pais eficientes e orgulhosos de seu filho.

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